quinta-feira, 11 de junho de 2009

apocalipse

velho, lembra daquela frase "aos mornos cuspo fora da minha boca"? livro do apocalipse. essa frase me assombrou durante toda a infância, cara. mas é exatamente isso, jesus já me cuspiu faz um bom tempo. me deixou aqui, amornado. não fui capaz de construir uma vida interessante o bastante, que desse uma biografia. nem tão tranquila que me tornasse exemplo.
sobrou esse pouco aqui, que eu vou usando até acabar.

terça-feira, 2 de junho de 2009

carta

querida m.,

hoje foi um dia bastante estranho. acordei antes de o nascer do sol e, por isso, passei toda a manhã sonolento. acabei dormindo novamente pouco antes de meio-dia. acordei duas horas depois, enjoado e sem apetite. porém, como me ocupar das refeições é essencial para escapar ao tédio, decidi sair para procurar um restaurante, algo que me despertasse a fome. acabei por entrar em japonês aqui perto.
sentei em uma mesa no canto e de onde podia observar a rua. os restaurantes sem televisão são tão bons, pena cobrarem tão caro justamente pela ausência de um aparelho. além de tudo havia boa música. quando cheguei tocava aquela primeira música daquele primeiro disco... esqueça, você não vai entender. essa era uma das músicas que eu escutava enquanto planejava deixá-la.
os orientais são bastante espertos, mas falo da esperteza que envolve sensibilidade, não inteligência. nos fizeram aprender a dividir mais que a mesa: somos obrigados a dividir também o prato. tábuas e até barcas de verdadeiros jardins de peixes. mas hoje me restou comer sozinho e calado, como que em oração.
me senti satisfeito mais rápido do que esperava. de qualquer forma, pedi ao garçom os dois harumakis a que tinha direito para a sobremesa. o cozinheiro, em sua pureza de coração, serviu-os separadamente, um em cada prato. afinal de contas, quem almoça sozinho num sábado à tarde?
o garçom levou-os à mesa exatamente como saíram da cozinha, preferindo um pedindo de desculpas à correção. contrariando toda a sensibilidade oriental. me expondo à minha própria solidão.
decidi não tocar num dos pratos. ficou claro para mim que o segundo harumaki era seu. acredito que ainda está lá, intacto, à sua espera.

b.