sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

crônica de santo andré

ter escrito uma crônica de guarulhos me deixou uma sensação de obrigação em escrever uma crônica de santo andré. mas não tenho condições de escrever nada. guarulhos foi ruim e foi triste. santo andré foi ruim e inócuo. o quarto do hotel era muito pior, desfavorável ao isolamento. isso me impelia a fazer passeios pelo abc plaza, e ver aquela gente toda acabava com qualquer melancolia.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

crônica de guarulhos

guarulhos, cidade-rodovia. murada por grandes empresas à beira da dutra, que escondem pequenas casas, padronizadas, com espaço para dois carros à frente, uma portinha, duas janelas. cabe a cada proprietário cuidar de "sua" calçada, formando uma superfície irregular e um desenho estranho. é tênue a fronteira entre o residencial e o comercial. uma cidade cortada assim é sempre triste. "fica de que lado? sentido rio ou sentido são paulo?". por algum motivo, me lembra bukowski dirigindo por los angeles ou são francisco.
guarulhos, cidade-aeroporto. é impossível pôr os pés na rua sem ver um avião. e menor esforço é necessário para ouvi-los. são como um gênero de pássaro em suas diversas espécies nativas. e os hotéis de pernoite, como o que estou hospedado, lotado de turistas atrasados, comissários e comandantes (o que fica bem ilustrado pelo restaurante dumont e o hangar bar).
guarulhos, cidade qualquer. nos poucos metros quadrados ao redor do hotel, que imprimi pelo google maps, contam-se quase uma dezena de ruas com nomes familiares: arthur bernardes, campos sales, nilo peçanha, sete de setembro, oswaldo cruz, siqueira campos, epitácio pessoa. e ainda o hospital carlos chagas.
todos os lugares são o mesmo lugar. o banheiro tem o cheiro daquele do motel do lido em que se entra a pé. de olhos fechados, no táxi, com o ar-condicionado ligado, poderia estar no carro da minha irmã, que eu dirigia três anos atrás. a disposição do quarto do hotel é idêntica à do apartamento que não consegui alugar na glória. tudo tem um paralelo que me transporta, e assim todos os tempos são o mesmo tempo.
falta apenas que todas as pessoas sejam a mesma pessoa.

sábado, 10 de janeiro de 2009

o caracol

saí do aeroporto carregando a mochila com o laptop, o livro da vez, papéis, e arrastando uma mala com roupas e necessidades básicas. cá estou, pronto para uma, talvez duas, semanas de isolamento. as perspectivas não são boas: onde afinal será minha casa, quando eu retornar ao rio de janeiro? tento pensar pelo lado positivo. quando as opções são poucas, quando é pouco o que nos resta, descobrimos quem somos. faz pouco notei que o quarto do hotel não é muito maior que os apartamentos que tenho visto. o que eu queria mesmo? ah, sim: um lugar pra dormir, tomar banho, lavar minhas roupas, cozinhar, trepar, guardar meus livros, receber amigos em pequenos grupos. anotado. deito e começo a ler, vã esperança de tranquilidade. a programação do cérebro hoje (sempre?) inclui reprises. só reprises. uma maratona de temporadas anteriores. parece óbvio, mas precisei ouvir da boca de uma amiga para entender que tanto mergulho no passado é um claro sinal de medo do futuro. sou muito novo, o suficiente para lembrar com clareza de quando ainda era inocente. e o quê, afinal, é necessário para ser feliz: inocência ou maturidade?
ah, não! essa história sobre "ser feliz", de novo...