quinta-feira, 15 de julho de 2010

a crônica do homem honesto

não há nada mais cruel para um homem do que acordar, olhar-se no espelho e constatar: tornei-me honesto.

o homem honesto é ateu, porque não consegue encontrar conforto no ombro de um mito. nessas horas, ele lembra da filosofia (mas não da religião) taoista, e sabe que na moderação está o segredo para que nada seja excepcional, mas também nunca desprezível; para que nada seja ruim para sempre, nem felicidade eterna.

o homem honesto sofre porque é responsável por todos os seus atos. sabe que mesmo aqueles que o levaram a consequências indesejadas são obra sua, pois poderia ter dito "não" a qualquer momento. se não o disse, é responsável.

o homem honesto é livre. livre da única liberdade possível a seres que possuem, na raiz de sua existência, a desliberdade: não escolheram ser, portanto nunca serão plenos.

o homem honesto encara essa crueldade buscando consolo num único ideal, muito vago: que sua honestidade seja o valor mais caro neste mundo.

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