quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

hiato I

é curioso que num momento tão fundamental da minha vida haja espaço para a tristeza e a melancolia de uma forma quase impensável. foi há exatamente duas semanas que encontrei um pensamento (esperava) libertador - "talvez eu nunca mais seja tão feliz de novo" -, mas se de certa forma ele me ajudou a seguir em frente, não foi um seguir em frente desprovido de nostalgia. essa semana tão atípica como free-lancer, que já nasce com data para acabar, faz surgirem paralelos com tantos tempos que fica difícil saber em qual deles estou perdido. esses dias atípicos remetem à liberdade dos primeiros anos de faculdade, dos impulsos e das descobertas intelectuais, da frustração desses planos, da resignação diante do "mercado de trabalho", da desistência de um projeto acadêmico que não possui nada de semelhante ao esforço físico, à repetição e a aridez da vida dentro de uma cozinha. esses dias remetem também ao início do ano de 2011, quando a experiência de trabalhar de casa começava como uma coisa nova e perfeita, e, se em algum lugar seu fim já estava escrito, eu ainda não sabia, e pude aproveitar intensamente toda a liberdade e viver todo o ônus da falta de disciplina. é cansativo ser tão incansável, ter a capacidade nunca sofrer um retrocesso incontornável. para toda perda surge algum sentido, ainda que leve alguns anos. mas em paralelo há um vazio que se estende, que se repete, que fica ali flutuando como que em gravidade zero. há um vazio de querer reviver tempos impossíveis, de já saber da incapacidade de reconstruir esses tempos, de não entender bem o que fazer com essa tristeza, onde colocá-la - no bolso, numa estante, no fundo da gaveta. é algo tão familiar e tão assustadoramente desconhecido. a vida insiste em mostrar que há muito o que se descobrir, há muito o que recomeçar, mas que ainda assim talvez nunca se reviva com a mesma alegria, com a mesma intensidade, com o mesmo tudo, com o mesmo nada. há um milhão de brunos perdidos pela trajetória, este que escreve é o mais forte dos sobreviventes, e ainda assim é extremamente frágil.

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