quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

crônica de guarulhos

guarulhos, cidade-rodovia. murada por grandes empresas à beira da dutra, que escondem pequenas casas, padronizadas, com espaço para dois carros à frente, uma portinha, duas janelas. cabe a cada proprietário cuidar de "sua" calçada, formando uma superfície irregular e um desenho estranho. é tênue a fronteira entre o residencial e o comercial. uma cidade cortada assim é sempre triste. "fica de que lado? sentido rio ou sentido são paulo?". por algum motivo, me lembra bukowski dirigindo por los angeles ou são francisco.
guarulhos, cidade-aeroporto. é impossível pôr os pés na rua sem ver um avião. e menor esforço é necessário para ouvi-los. são como um gênero de pássaro em suas diversas espécies nativas. e os hotéis de pernoite, como o que estou hospedado, lotado de turistas atrasados, comissários e comandantes (o que fica bem ilustrado pelo restaurante dumont e o hangar bar).
guarulhos, cidade qualquer. nos poucos metros quadrados ao redor do hotel, que imprimi pelo google maps, contam-se quase uma dezena de ruas com nomes familiares: arthur bernardes, campos sales, nilo peçanha, sete de setembro, oswaldo cruz, siqueira campos, epitácio pessoa. e ainda o hospital carlos chagas.
todos os lugares são o mesmo lugar. o banheiro tem o cheiro daquele do motel do lido em que se entra a pé. de olhos fechados, no táxi, com o ar-condicionado ligado, poderia estar no carro da minha irmã, que eu dirigia três anos atrás. a disposição do quarto do hotel é idêntica à do apartamento que não consegui alugar na glória. tudo tem um paralelo que me transporta, e assim todos os tempos são o mesmo tempo.
falta apenas que todas as pessoas sejam a mesma pessoa.

3 comentários:

Fay disse...

chorei (juro). me fez lembrar, sei lá, sartre.. naquele quartinho de hotel onde ele sentava à janela e ficava escrevendo, escrevendo.. me pareceu algo meio sujo mesmo, meio.. pela metade. sabe?

e isso aqui: "falta apenas que todas as pessoas sejam a mesma pessoa." mais triste ainda.

bruno, não deixe que guarulhos te mate, tá? volte inteiro. quer ser meu amigo? beijo.

Carol disse...

muito bom mesmo.

nao vou te ver na volta (aliás, quando vamos nos ver, afinal?)

mas torco pelo ape, pelas cidades visitadas e pelas pessoas voltando (ou nao) a serem as mesmas.

Pedrin disse...

É incrível perceber que o mundo se resume a algumas poucas ruas, algumas poucas pessoas e algumas poucas referências.

E o que me deixa mais angustiado é que, na minha inocente e entusiasmada fome de conhecimento e por coisas novas, você acaba descobrindo que todas as cidades do mundo se encontram numa Avenida Brasil, com a pessoa que você curte, ao som de "Umbrela".

Triste, mas acabar descobrindo que umas poucas pessoas [ou uma só] são suficiente para a necessidade de companhia é um pouco reconfortante.

Saiba que você faz falta na nossa esquina daqui.

[que piegas e gay!!!]