quarta-feira, 15 de julho de 2009

eça

os vapores do vinho e a fumaça me inspiraram. quando eu virei a esquina de casa eles sopraram no meu ouvido e eu lembrei que à tarde, não sei direito porquê, a luísa me falou estou lendo eça de queiroz, eu perguntei que livro, ela disse os maias, e eu respondi eça de queiroz é o escritor preferido do meu pai, ele leu tudo do eça, tínhamos a obra completa lá em casa (nessa hora eu lembrei que moro sozinho e não sabia se me faria entender com o 'lá em casa'), mas nunca li, e continuando ela já falou li também o primo basílio, respondi, o primo basílio é o livro preferido do meu pai, ela disse você devia ler, eu expliquei sabe por que eu sei que é o livro preferido dele, era uma pergunta retórica, não esperei para dar seguimento, sabe por que eu sei disso, retórica de novo, na única vez em que me mudei com a minha família (outras duas vezes me mudei da minha família) na única vez em que me mudei com a minha família eu tinha onze anos, estava tirando os livros todos da caixa, quando quase rasguei a lombada do primo basílio, minha mãe se assustou, esse é o livro preferido do seu pai, mas o fato é que meu pai nunca me deu um livro e disse você devia ler esse livro, bruno.
por isso que digo que me criei sozinho, mas você deve sempre desconfiar de um homem que bate no peito e diz eu me criei, um homem que fala isso finge ter orgulho, mas na verdade ele só está expressando uma tristeza profunda.

3 comentários:

Fábio François Fonseca disse...

é verdade...

Luísa Ulhoa disse...

oh, chuchu. eu te empresto o primo basílio!

KK disse...

sim, claro...

a gente sempre mantém um resquício de apego em algum lugar...