quarta-feira, 13 de maio de 2009

cérebro

um dos filmes a que assisti mais vezes foi pi, do darren aronofsky. hoje à tarde lembrei dele e tive vontade de assistir mais uma vez. o maior clichê sobre filmes que repassamos é que, a cada sessão, descobrimos coisas novas. mas não repito isso de maneira leviana. mudamos nós, mudamos o que queremos encontrar, muda nossa percepção.
nunca tinha reparado que o protagonista, maximillian cohen, mora no bairro oriental de nova york, chinatown. isso fica claro nas primeiras sequências, com a menina de olhos puxados que brinca com a calculadora, os praticantes de tai chi chuan no parque e os letreiros das lojas. a partir desse momento, a história fez ainda mais sentido.
max é matemático e expõe logo de início que acredita na existência de um padrão cíclico regendo todo o universo e cada pequena coisa que está contida nele. nada mais próximo da filosofia oriental do que isso. e que me remeteu ao pequeno estudo que fiz do dao de jing ano passado.
durante todo o tempo de colégio fui uma negação em matemática. nada fazia sentido, consegui assimilar muito pouca coisa. logo eu, tão cartesiano, tão pouco sensível. não há dúvidas de que a inacessibilidade da matemática contribuiu para minha admiração ao filme.
enquanto os vizinhos chineses e afins são meros coadjuvantes, um outro grupo tem participação ativa: os judeus. lenny meyer, também matemático, mostra algumas curiosidades numéricas da torah a max, que vão ao encontro da tese que ele defendia. foi quando me vi num segundo ponto curioso: o apartamento para onde acabei de me mudar fica exatamente entre um tempo taoísta e um centro de estudos da cabala. de repente, tudo parecia muito familiar.
outro ponto do filme fez crescer essa identidade. max sofre constantemente de dor de cabeça, que em um de seus pontos críticos é ilustrada pelo personagem cutucando um cérebro com uma caneta, até perfurá-lo.
no entanto, a parte mais interessante do filme continua sendo a confrontação do antigo professor de max. ao ver o ex-aluno envolvido até o pescoço na busca de um padrão para o pi, o mercado de ações e as 216 letras do verdadeiro nome de deus, profere o que até pouco eu achava uma das melhores frases do filme: "as soon as you discard scientific rigor you are no longer a mathematician, you are a numerologist."
mas o que há de errado nisso? foda-se o padrão científico. a vida não nos dá duas chances. não podemos fazer grupo-teste e grupo-controle para os amores, as amizades, as palavras ditas, as decisões tomadas. resta-nos saber o que queremos. e manter isso em mente. sempre a visível. um dia a gente encontra.
urge viver.